“A ruidosa sociedade do cansaço é surda.”
Nas sociedades contemporâneas, ditas “civilizadas”, parece que ouvir os outros passou a ser “uma maçada”, cada vez mais… Consoante os anos vão passando, mais noto este flagelo da “falta de interesse pelo outro” a agudizar-se. Não sei se também observa este fenómeno e se tal mexe com a sua sensibilidade. Às vezes, já parece que nem pertencemos à mesma espécie, que já não reconhecemos no “outro” o “eu”!
Assim…
A verdadeira atividade de diálogo está a tornar-se uma coisa do passado, algo que muitas pessoas já nem experienciam (tantas vezes nem dentro de casa, com os familiares, nem com os amigos ou colegas) e da qual sentem “saudades”.
Na obra “A expulsão do Outro”, do filósofo contemporâneo Byung-Chul Han, lê-se:
"No futuro haverá, possivelmente, uma profissão a que se chamará ouvinte."
"Hoje, perdemos cada vez mais a capacidade de escutar. É, sobretudo, a cada vez maior focalização no ego, o progressivo narcisismo da sociedade, o que torna difícil escutar. [...] Escutar não é um comportamento passivo. Caracteriza-se por uma atividade peculiar. [...] Escutar é [...] um dar, um dom. [...] A escuta convida o outro a falar, libertando-o. [...] A ruidosa sociedade do cansaço é surda. [...] É necessário, hoje, uma revolução temporal [...]. Trata-se de redescobrir o tempo do outro. A atual crise temporal não é a aceleração, mas a totalização do tempo do eu."
Foi a leitura desta obra que me levou a querer enveredar por este caminho profissional. “Ouvinte” é uma profissão muito recente, que já começou a ser exercida nos Estados Unidos (“professional listener”) e em alguns países europeus. Em Portugal, fui pioneira nesta profissão. Identifico-me completamente com ela. Possibilito que, numa era da “expulsão do Outro” (como o filósofo tão claramente demonstra), as pessoas possam ser verdadeiramente escutadas e, deste modo, contribuir para o desenvolvimento de uma sociedade mais humanizada.
Para aquele filósofo, a profissão de “Ouvinte” seria desempenhada com o profissional mantendo-se em silêncio, privilegiando-se o olhar, a presença, o tempo do outro, sem interferir. Sei que uma experiência assim já de si seria salutar, mas não é o tom que dou à minha atividade profissional. Posso ajudar ainda mais de outra forma.