Testemunhos
Se quiser perceber como trabalho com crianças e jovens, aqui ficam alguns testemunhos da minha experiência no ensino.
A publicação dos testemunhos e fotos foi devidamente autorizada.
Augusta Marques
A professora Lídia, que posso eu dizer sobre a professora Lídia?
Mais do que uma professora, uma amiga, uma companheira de aventuras, uma educadora em todos os sentidos, alguém que nos entende e nos toca a alma.
Ser aluna da professora Lídia foi das melhores experiências da minha vida! Cheguei quase a levar umas palmadas da minha mãe por chegar tarde a casa, depois das aulas, porque ficámos à conversa (e que bem que sabia!)!
Uma professora atenta e dedicada, capaz de nos ensinar a matéria sem que nos aborrecêssemos, ou mesmo desistíssemos de tentar; muito pelo contrário, cativava a nossa atenção de tal forma que andávamos sempre a tentar ser os primeiros a terminar a matéria, e a nossa opinião contava sempre!
Parecia que nos lia a mente, acalmava o nosso pensamento de adolescentes em fúria e revoltados com a vida, e conseguia fazer-nos entender as adversidades que estávamos a enfrentar, os nossos duelos interiores e ensinava-nos a colocarmo-nos também no lugar do outro, para entendermos que tudo não passava de uma questão de perspetiva.
Já depois de ter terminado o ano letivo, o nosso grupinho do costume das conversas intermináveis ia ao cinema, fazia picnics, bem... éramos compinchas.
Quando deixámos a escola, como tudo na vida, cada um seguiu com as suas vidas e, por diversas razões, perdemos o contacto.
Apesar disso, o elo continuou forte, tanto que após vários anos depois, eu já casada e com filhos, cruzei-me num shopping com a professora Lídia e meti conversa, e que bem que soube o reencontro, que apesar de curto e fugaz, foi o reconectar de uma amizade que faremos com que perdure, agora com mais umas crianças à mistura!
Henrique Silva
Foi com a Professora Lídia que tive alguns dos primeiros momentos em que me foi permitido e incentivado pensar. Habituado a anos de uma realidade de respostas certas ou erradas, sem nada entre cada uma das duas opções, essa liberdade deixou-me inicialmente sem chão. Mas veio depois a libertação em forma de discursos incoerentes de revolta contra as regras, pseudo ensaios toscos, meras observações de um adolescente perdido e tentativas de humor parvo que do outro lado, felizmente, foram recebidas e ouvidas por alguém que, de alguma forma, encontrou valor nas minhas palavras. A validação que senti deu-me, sem que me apercebesse, algumas ferramentas para encontrar valor no outro. Fez de mim em parte o que sou hoje.
Laura Sarmento
Nos finais dos anos noventa, a Expo 98 era assunto recente, a música oscilava entre o grunge, o hip hop e o pop eletrónico, os telemóveis de última geração rimavam com Nokias 3310 e ter acesso à MTV implicava ter um(a) amigo(a) com TV por cabo. Neste cenário, na Escola Secundária Rodrigues de Freitas, no Porto, ter uma professora recentemente saída da Faculdade era, por si só, um acontecimento.
A professora Lídia, desde logo, mostrou-se muito diferente de todos os professores que tinha tido até então. Começou por demonstrar a sua organização, a sua preparação científica e constante interação com a turma, sempre associada a um sorriso largo. Incentivava os alunos a apresentar aulas aos colegas e a refletir sobre a matéria, algo que estava nos antípodas do ensino livresco a que estava habituada. Ainda hoje me lembro de nomes como Platão, Sócrates, Bachelard, Popper, entre outros. Recordo-me de uma situação caricata sobre a frase "A justiça é cega!": a maioria da turma interpretou no sentido popular dos erros que a justiça comete, mas a professora logo esclareceu que a justiça é representada vendada porque deve ser imparcial. Desta forma, aprendi que em Filosofia acontece o mesmo que na vida: o seu mistério só se revela a quem está aberto a ver a realidade a partir de múltiplas perspetivas.
Marta Soutinho
“And then one day you find
Ten years have got behind you
No one told you when to run
You missed the starting gun”
*Excerto da música Time, dos Pink Floyd
Mais de 20 anos passaram…
As aulas de filosofia são paragens longínquas na breve linha temporal de uma vida humana; porém, a sensação de serem momentos de grande entusiasmo perdurou até hoje.
A lembrança mais presente do convite à reflexão feito nesses tempos é a música “Time”, dos Pink Floyd.
Recordo a forma descontraída e entusiasmada como este processo era feito, quando a professora Lídia – apoiada na mesa e debruçada ligeiramente para a frente, serena, acessível – incentivava o questionamento, acompanhando a sala com um olhar atento.
Ler uma letra, perceber a sua mensagem, a sua profundidade e escutar o som da poesia, foi uma maneira eficaz de aproximar a realidade da sala de aula, de tornar conceitos complexos acessíveis e apetecíveis.
A lembrança desta música, indissociável das aulas de filosofia, sobreviveu a distintas viagens em torno do sol e humanizou a visão sobre esta realidade poliédrica a que chamamos Vida. Reflectir sobre a vida, a morte, a passagem do tempo, continua a ser pensamento intemporal, mais rico em memórias quanto mais rico em tempo(s), mais cansado, quanto menos vivo.
Fecham-se e abrem-se ciclos,
Na(s) partida(s) e nos horizontes alcançados.
Percepcionam-se realidades
constroem-se significados, lêem-se símbolos.
Navega-se pela vida
com a serenidade permitida,
vislumbrando complexidades.
Atenção! É hora da partida!
“The Sun is the same in a relative way
But you're older
Shorter of breath
And one day closer to death”
* Excerto da música Time, dos Pink Floyd
Mariana Stephane
Como aluna do Colégio de Nossa Senhora do Rosário (já lá vão alguns anos!!), conheci a Professora Lídia quando comecei o 10º ano, um ano de muitas mudanças. Foi ela que me revelou o que era o “mundo da Filosofia”, um mundo totalmente desconhecido para mim.
Desde o primeiro momento, tornou-se mais do que uma Professora. Tornou-se um exemplo a seguir. A sua ética, a sua sensibilidade, o modo como transmitia o conhecimento, como orientava as aulas, como se disponibilizava para tirar as dúvidas, a empatia que transmitia, o entusiasmo contagiante que tinha pela matéria em si... tudo isto contribuiu para que fosse crescendo em mim o gosto pela sua disciplina, pelo que as aulas de Filosofia rapidamente se tornaram umas das minhas preferidas.
Aos 27 anos, ainda me lembro dos conselhos que me dava no fim das aulas, conselhos esses que tenho guardados comigo até hoje tanto para a minha vida pessoal como profissional. Por todos estes motivos, por sempre ter acreditado no meu potencial e por fazer que eu própria acreditasse mais em mim mesma, tenho a agradecer à Professora por ter feito parte da minha “jornada”, por ter tido uma influência em mim que poucas pessoas tiveram e por me lembrar que “a esperança é o sonho do Homem acordado”.
Diogo Cardoso
Só consigo tentar imaginar a dificuldade subjacente ao desafio de ser um professor de Filosofia no Ensino Secundário e receber uma turma no início do 10º ano, que por sua vez só conseguem imaginar o que será abordado nessa nova disciplina. No que se refere à minha experiência, isto só se complica quando a turma em questão é da área de Ciências e Tecnologias. A começar a fazer contas ao futuro, Saúde de um lado e Engenharias do outro, com exames nacionais, Matemática A, Física e Química, Biologia e Geologia… e lá está a Filosofia, qual carta fora do baralho. Esta foi a ideia com que comecei as aulas de Filosofia no 10º ano, mas rapidamente me apercebi de que não poderia ter estado mais errado nessa altura, uma opinião que só se tem vindo a solidificar à medida que os anos passam.
Se tivesse que resumir apenas a um aspeto do que me puxou logo desde o início na Filosofia, acho que teria que escolher aquele momento de epifania sobre o quanto se consegue aprofundar qualquer frase, qualquer pensamento, qualquer raciocínio lógico, e a rede de ideias que se consegue criar a partir de uma ideia tão simples, desde que se tenha alguma vontade, interesse, tempo e as bases e treino necessário. A disciplina de Filosofia entra neste último aspeto; quem a ensina tem a dificuldade acrescida de fomentar os dois primeiros também.
Foi com alguma surpresa, esta imensamente agradável, com que percebi que tanto eu como a Professora Lídia Queiroz nos lembramos em grande detalhe de alguns momentos deste género passados em aula – momentos que ocorreram 12 anos antes da redação deste texto. Isto significa uma de duas coisas: ou somos ambos pessoas com memórias a roçar o prodigioso, ou então foram momentos marcantes para o aluno e significativos o suficiente para atestar a dedicação da professora.
Vários anos depois de ter deixado o estudo formal da disciplina de Filosofia, encontro-me a trabalhar numa área que, olhando de relance, pouco tem a ver com ela: Medicina. Como já fiz referência há pouco, escavando um pouco, a Filosofia aparece em relação com tudo e todos. Por diversas coincidências do destino, dei por mim a interessar-me pelas Ciências Sociais de uma forma geral e querer aprofundar conhecimentos em várias áreas relacionadas, ainda que de modo informal (não nego que parte deste interesse tenha vindo da vontade de estar mais bem informado para “ganhar” possíveis discussões com amigos e colegas de trabalho, mas adiante…). Nesta pesquisa, era inevitável que fosse novamente cruzar-me com a Filosofia, desde conceitos já familiares do Ensino Secundário como a Ética e a Moralidade, como, num também inevitável encontro entre a minha área e a Filosofia, áreas como a discussão de Sistemas e Instituições de Saúde – nada como ler Foucault para fazer um médico desconfortavelmente introspetivo.
E onde quero chegar com esta história? A que nada acontece por acaso, há sempre uma justificação, por mais remota que seja. Também não foi algo de que me tenha apercebido de imediato, mas o facto é que é inegável que a dedicação e perseverança que a Professora Lídia demonstrou aula após aula e, acima de tudo, o entusiasmo contagiante a falar de temas tão essenciais para oferecer estrutura e bases ao raciocínio e compreensão do mundo que nos rodeia, foi o que, pessoalmente, plantou a semente para uma vertente única e importante de curiosidade em compreender o mundo que me rodeia, importante tanto de uma perspetiva pessoal como profissional. Olhando, com algum orgulho e satisfação, para a educação que tive a felicidade de receber, incluindo como autodidata, não posso deixar de agradecer o facto de ter sido “mordido por este bichinho” logo naquelas primeiras aulas de Filosofia.
Ana Sofia Silva
Quando penso na Prof. Lídia, volto aos meus tempos de secundário, acabada de chegar a uma escola nova. Logo de início, tínhamos ambas isso em comum!
Veio para nos introduzir no mundo da Filosofia, mas deu-nos tão mais que isso… Mais que uma professora, considero que foi uma grande Educadora. Porque, apesar de eu considerar que a educação começa em casa, ela é prolongada pela escola e (supostamente) complementada pelos nossos professores. E foi isso que a Prof. Lídia fez. Mais do que nos ensinar a história da Filosofia, ensinou-nos a aplicar efetivamente a Lógica, motivou-nos a querermos saber mais e fez-nos acreditar no nosso potencial. Ensinou-nos essencialmente a pensar sobre os temas, que é a capacidade mais importante que podemos ter. Ensinou-nos que o conhecimento só é poder se agirmos com base nele.
E tudo isto não passou despercebido! Conseguiu de tal maneira conquistar o afeto dos seus alunos que, após termos visto o filme “Dead Poets’ Society” numa aula algures no 10º ano, no final desse mesmo ano quando a professora se despediu da turma, foi surpreendida com um momento “Oh Captain, My Captain!” interpretado por todos os alunos! Foi das despedidas mais bonitas que guardo dos meus tempos de escola: a professora carinhosamente deu uma frase a cada um, um mini pote de madeira que representava simbolicamente um dos temas tratados em aulas e duas fotografias da turma completa a posar consigo para a foto!
Ficámos com os seus contactos e ainda trocámos vários e-mails para acompanhar o progresso uma da outra! Agora, enche-me de orgulho ver que está a fazer algo tão importante para as novas gerações, pondo em marcha o seu talento natural para educar!
Desejo-lhe o maior sucesso do mundo e espero um dia poder confiar-lhe o futuro das minhas (eventuais) crianças.
Inês Carvalho
Conexão. Espírito crítico. Espaço. Tempo.
Estas são algumas das palavras que resumem o que foi a disciplina de Filosofia para mim. Encontrar espaço dentro do extenso currículo do Ensino Secundário para aquilo que podemos ganhar de mais valioso no percurso escolar: desenvolver o espírito crítico, sem correr contra o relógio, mas com tempo para debate, reflexão e para nos autoavaliarmos como seres humanos. Num ambiente escolar que muitas vezes se esquece do importante papel da formação humana, a Professora Lídia foi uma figura essencial nesse percurso. Ao estabelecer uma conexão real com os alunos, olhando ao mesmo tempo para a nossa individualidade e papel coletivo, foi capaz de criar um espírito de comunidade, onde aprendemos uns com os outros muito além do que guiavam os manuais. Ao mesmo tempo, a Professora olhava atentamente aos nossos perfis individuais de forma a tirar o melhor de nós – e tirou. Mesmo não tendo seguido um percurso em Filosofia, levo os seus valores no meu percurso académico e profissional, onde encontrar espaço para reflexão, para crítica, para debater e aprender coletivamente é a forma mais enriquecedora de adquirir conhecimento.
Muito obrigada à professora Lídia por me ter deixado esses valores que levo para a vida!
Tiago Monfort
Tive o privilégio de ter sido aluno da Professora Lídia Queiroz, com quem aprendi Filosofia durante o ensino secundário.
A verdade é que acabei por aprender muito mais que Filosofia.
Com a Professora Lídia Queiroz, a aprendizagem foi muito para além dos conteúdos programáticos, que foram lecionados de forma extremamente rica e fundamentada, tendo cativado em mim e nos meus colegas um profundo interesse pela matéria. Mas aquilo que mais realço é precisamente o modo de ensinar, cunhado por uma dedicação extrema e por uma atenção às especificidades de cada aluno, que potencia a autonomia, o sentido crítico e o desenvolvimento global das competências pessoais – hard e soft skills – de cada um.
Levo comigo estes ensinamentos e estas memórias para a vida.
Camila Lobo
Cresci em tempos sombrios para o ensino e para a aprendizagem. Assisti, ao longo da minha educação básica e secundária, aos efeitos de um sistema sufocante no qual educadores e alunos eram obrigados a participar, perdendo sentido do seu propósito e motivações. A representação hierárquica, impessoal e essencialmente hostil dessa relação servia a sua degeneração, e vi professores perder a vontade de ensinar tão frequentemente quanto vi estudantes perder a vontade de aprender. Em retrospectiva, nada me parece mais aberrante do que a ideia de que o meu espírito naturalmente curioso e reflexivo tenha, a certo ponto, rejeitado tão veementemente o estudo e o conhecimento. Hoje compreendo que o estudo só tem valor se for motivado e que a acumulação de conhecimento não equivale a sabedoria. O nosso espírito ansiava saber e, a maior parte do tempo, a escola não respondia às nossas necessidades.
Só esta aparente contradição entre a minha (a nossa) rejeição da escola e a nossa (a minha) vontade de aprender pode contextualizar a importância do momento em que a professora Lídia apareceu nas nossas vidas. Raras vezes, até então, tivera a oportunidade de assistir a um educador desafiar os constrangimentos do sistema que descrevo. Ainda mais raro era encontrar alguém que fizesse desse o seu propósito de vida. À exceção talvez da minha professora primária, a quem devo a estrutura intelectual que não me permitiu desistir, a professora Lídia surgiu na minha vida como essa raridade. O reconhecimento foi imediato. Recordo a sensação de não a querer perder. Recordo como, em plena idade de rebelião, procurava cumprir com as minhas responsabilidades e estar à altura das expectativas. Quanta ironia: nenhuma reprimenda, ameaça ou relação hierárquica me convenceria a estar presente como ali estive. Nenhum manual, sebenta ou prédica me ensinou o que ali aprendi: a pensar criticamente e a pensar em conjunto.
Vi o entusiasmo pela aprendizagem renascer em mim como o vi nos meus e nas minhas colegas. Vi estudantes desmotivados redescobrir o gosto pela leitura, pelo cinema, pela reflexão, e vi que reconheciam a origem desse renovado entusiasmo. Reconheciam e valorizavam como só poderiam valorizar a pessoa que lhes mostrou que não estavam enganados: eram mesmo mais capazes, mais curiosos e mais interessados do que os tinham feito acreditar. Esse reconhecimento tomou várias formas, mas creio ter sido demonstrado frequentemente ao longo do período em que tivemos a professora Lídia como professora de filosofia. Entre avaliações quantitativas que provavam melhorias no desempenho escolar e avaliações afetivas que traduziam um enriquecimento ao nível do desenvolvimento pessoal, creio não ser exagerado dizer que ninguém ficou indiferente à passagem da professora Lídia pela sua vida.
A mim, em particular, este período mostrou-me o que talvez sempre tivesse sabido: que o meu caminho passaria mesmo pelo trabalho filosófico e, além disso, que nenhum projeto em que me envolvesse seria constrangido por formas tradicionais de fazer e de pensar. Não está longe, de facto, o trabalho do verdadeiro pedagogo do papel desempenhado pelo filósofo. Para tomar de empréstimo uma expressão wittgensteiniana, o propósito do professor parece-me ser, como o do filósofo, reunir "lembretes" que levem o estudante a "girar o eixo de rotação" do seu pensamento. Isto é, que o levem a ver o mundo de novas perspectivas, através das quais o conhecimento se possa traduzir em sabedoria. É esta a marca que a professora Lídia deixa nos seus alunos e nas suas alunas. O seu método pedagógico é, pois, a única esperança de um sistema de ensino justo, inclusivo e significativo.
Gonçalo Pires
A professora Lídia foi minha professora de Filosofia durante o ensino secundário e foi das docentes que mais deixou marca nesse período tão importante no crescimento de uma pessoa. Como professora de Filosofia, uma das características que mais recordo das suas aulas é a capacidade de interagir e se relacionar com os alunos, com uma abordagem em que nos atribuía mais capacidade e responsabilidade do que a maioria dos professores na altura. Penso que se conseguiu colocar ao nosso nível sem nunca perder o respeito necessário para uma boa dinâmica das aulas, o que levava a aulas bastante interativas e estimulantes. Recordo-me que eram as aulas em que grande parte dos alunos participava voluntariamente, porque o ambiente criado fazia com que todos se sentissem à vontade para expressar as suas ideias. Assim, ocorriam discussões e partilha de pensamentos sobre variados temas da área da filosofia, em aulas dinâmicas e interessantes que diferenciavam esta disciplina das restantes.
Ainda hoje me recordo de discutirmos o filme "O Clube dos Poetas Mortos" e de uma pequena anotação da professora a um detalhe do filme ou da aula em que discutimos a "Alegoria da Caverna".
O ensino secundário é uma altura em que a visão do mundo de cada indivíduo se altera e várias questões novas começam a surgir, e não consigo imaginar melhor professora para estimular e participar nesse desenvolvimento. Não é fácil no modelo de aulas em Portugal (demasiados alunos que passam demasiado tempo em salas de aula fechadas) ter tanto impacto e dinamizar as aulas cumprindo com os objetivos da disciplina, mas a professora Lídia conseguia fazê-lo de modo perfeito. Não é por isso de estranhar o facto de todos os alunos da minha turma terem ficado desiludidos quando a professora teve de abandonar a nossa escola.
Rita Almeida
A professora Lídia foi dos primeiros contactos que tive com o mundo da filosofia. Desde o início que não se restringiu a apresentar apenas a filosofia e os conteúdos programáticos, mas fez-nos sim ser filosofia.
Enquanto crianças, adolescentes, filhos/as e alunos/as não nos questionam, não nos fazem questionar, pensar ou ser, e depois de anos a viver uma educação formatada e de cumprimento de critérios, ter uma professora que nos quisesse ouvir era inédito, e assustador ao mesmo tempo, nenhum de nós sabia o que era a nossa voz. A professora Lídia não teve medo: olhava para nós com o maior dos potenciais, colocava-nos a explorar, discutir, pensar, partilhava connosco o processo de aprendizagem e deixava-nos crescer. Foram apenas alguns meses que tive o prazer de partilhar com ela, e mesmo não o tendo reconhecido no momento (a adolescência estreita a atenção para outras coisas), hoje em dia ainda relembro e reflito sobre muitos momentos na sala da aula. Destaco com maior pormenor um deles, que foi precisamente o da despedida. Foram entregues a todos os alunos sacos de papel, com pequenas peças que ao juntar-se faziam uma pista de comboio, e discutiu-se, falou-se, pensou-se sobre a moralidade na sua forma mais pura, sobre como nos conduzimos nas nossas decisões, sobre como não nos queremos conduzir, sobre mudar de direção ou não. E desde aí que vi a filosofia em tudo, em que deixei de ter medo da minha voz. Por isso, devo à Professora Lídia este acordar para as coisas melhores que podemos ter, a capacidade de refletir e questionar, não deixar que o mundo exista sem nós.
Francisca Menezes
Professora Lídia,
As recordações estão envoltas em nevoeiro..., mas recordo uma voz simpática falando-nos dos pensadores antigos. Há coisas que quase me passaram despercebidas, mas que adquiriram todo o sentido no mundo empresarial em que mergulhei, tornou-me melhor pessoa e melhor profissional, fez-me pensar e estruturar tanto os meus pensamentos como as minhas curiosidades.
A Filosofia ensinada por si era tudo o que precisávamos numa altura de crescimento e formação pessoal, e foi um dos nossos pilares que nos sustenta ainda hoje. Sem darmos conta, utilizamos tudo o que nos ensinou desde o nosso dia-a-dia até à nossa ocupação profissional e irá acompanhar-nos para sempre.
Todos mudámos e evoluímos; no meu caso, a minha forma de ver o mundo mudou para sempre, pois plantou a curiosidade em mim de ir sempre além do que está na frente dos nossos olhos.
Muito obrigada por tudo... Um beijinho da sua aluna Francisca
Rui Fonseca
Educar é o ato mais nobre e significativo que podemos ter em torno desta humanidade. A educação é uma ferramenta transformadora que permite a quem aprende um crescimento exponencial na forma como abraça a vida futura nos outros e em si mesmo. A educação, em particular, tem a capacidade de potenciar no jovem uma dinâmica mais positiva, pois o ensino está centrado somente numa relação de professor/aluno que permite um trabalho mais profícuo e assertivo. A professora Lídia Queiroz, com quem eu fiz um curso sobre ética, tem inúmeras capacidades fundamentais para viabilizar com sucesso um projeto novo de ensino centrado na relação de crescimento do aluno. O seu sorriso, fundamental na comunicação facilitadora da aprendizagem que capacita para a vida, é sinal de confiança, é uma mostra de alma de empenho, de responsabilidade e de capacidade, assegurando que o barco pode rumar sempre a bom porto.
Joana Carvalho
Foi para mim um enorme privilégio ter compartilhado com a Lídia o estudo da Filosofia, na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e o seu ensino, durante o nosso ano de estágio pedagógico, e mais tarde também, já na qualidade de formadoras, a conceção e prática de um curso sobre “Dilemas Éticos Contemporâneos”, na mesma Faculdade onde estudámos.
Tudo isto relembro com saudade e pormenor, estando ainda bem vivos na memória os merecidíssimos elogios que a primeira aula assistida, preparada pela jovem e promissora estagiária Lídia Queiroz, desde logo suscitou. Lembro ainda, com redobrada saudade e emoção, o nosso entusiasmo conjunto a imaginar, sob um cintilante céu estrelado de verão transmontano, que aos sonhos convida, como seriam as nossas primeiras aulas de Filosofia, no ano de estágio que se avizinhava. Quanta inspiração!
Agora, tantos anos passados – mais de duas décadas! –, o meu respeito e a minha admiração pela Professora Lídia Queiroz é ainda maior. As suas qualidades pessoais e profissionais são inúmeras, mas destaco, muito em especial, aquela que me parece ser, talvez, a mais invulgar de todas: uma coerência absoluta entre o que a Lídia sente, pensa, faz e se propõe fazer.
É, pois, com antecipado orgulho e imensa expectativa que assisto ao nascimento de um projeto educativo novo, cheio de esperança no poder da Educação e fortemente ancorado no que deve ser a prática do verdadeiro pensamento crítico: aquele que pretende conhecer para transformar o mundo e fazê-lo melhor para todos nós.