Crises de ansiedade em contexto escolar
Em 1998, quando comecei a dar aulas, não se ouvia falar de “crises de ansiedade” no meio escolar.
Em 2023-2024, ao palmilhar o interior de escolas, foi este o cenário que encontrei:
[numa escola de 2º e 3º ciclo] tantos alunos cujos corpos pareciam inteiramente ausentes da realidade circundante (talvez devido a um quadro de depressão(?), identificada ou não);
[numa escola secundária] alunas a terem crises de ansiedade, casos que envolveram a necessidade de (1) ou respirar para um saco de papel, (2) ou toma de medicação, (3) ou saída da escola de ambulância, etc.
Não contava ver esta realidade, pura e simplesmente.
Sou altamente sensível ao sofrimento de crianças e adolescentes.
Tinha de perceber o que se estava a passar. Fui investigar esta problemática.
Agora sei que aquilo que vi não é uma mera coincidência...
Sabia que há adolescentes a tomar calmantes antes de realizarem os exames do 9º ano, numa tentativa de controlarem os elevados níveis de ansiedade (relativamente a notas que nem terão qualquer impacto nas médias de acesso ao Ensino Superior!)?
Vou contar-lhe uma história:
Nos meus primeiros tempos de professora do Ensino Secundário, houve um ano em que só fui colocada numa escola em janeiro. Era para assumir o horário de um docente que tinha entrado em baixa médica. O horário era composto por todas as turmas de Psicologia do 12º ano daquela escola (turmas de Ciências, Humanidades e Desporto). Nunca tinha lecionado Psicologia, as aulas terminariam logo no início de junho, os alunos iriam todos a exame nacional e o docente anterior não tinha chegado a concluir sequer a lecionação do primeiro módulo do programa. O programa era extenso e este aparecia para ser explorado em dois volumes de um manual.
Deparei-me com turmas cujos alunos estavam amorfos (creio que, talvez, por um mecanismo de autodefesa, pois saberiam que a situação em que se encontravam era preocupante). Em cada turma, fiz perguntas sobre a matéria já lecionada e os alunos, no geral, mostravam-se inseguros nas respostas. Depois de ter feito o diagnóstico da situação, fui para casa a ponderar a metodologia de ensino que deveria adotar. Estávamos numa corrida contra o tempo mas... decidi que o melhor seria começar a lecionar o programa desde o início e pedi-lhes que confiassem que (1) os levaria a bom porto e (2) com tranquilidade.
Fim da história:
O programa foi todo explorado a pente fino. Semanas depois do exame nacional, recebo um telefonema do Conselho Executivo. Era para me pedirem para aparecer no dia tal, às x horas, no bar da escola, pois já tinham saído as notas dos exames de Psicologia e havia alguns alunos que estavam a precisar da minha ajuda para pedirem reavaliação da nota das provas ao Secretariado Nacional dos Exames Nacionais. Quando cheguei ao bar naquela manhã, deparei-me com uma multidão de alunos do 12º ano que desataram a bater palmas, bem como a Diretora do Conselho Executivo e uma professora que não conhecia. A Diretora quisera chamar-me até ali para, conjuntamente com a autora do manual adotado pela escola (a quem a Direção fez questão de convidar para estar presente), me felicitarem pelo trabalho realizado com as turmas do 12º, pois aqueles alunos tinham colocado a escola pública numa posição extraordinária no ranking a nível nacional, à disciplina. Era só alunos ao meu redor, todos a quererem mostrar, entusiasticamente, os cabeçalhos dos exames com as notas – por eles conquistadas. Saí do bar, naquele dia, sem ter de ajudar a redigir uma única fundamentação de pedido de recurso aos exames.
Como ajuda o seu filho(a) a viver com mais serenidade interior?