Pensar fora da caixa

Vou contar-lhe uma história:

Comecei a ajudar crianças a ultrapassarem dificuldades escolares quando era ainda uma estudante (do 9º ano). Ficava estupefacta com os bloqueios que os alunos revelavam nas coisas mais fáceis, quando o mais difícil já estava absolutamente compreendido! Como era possível?!

Um aluno (do 1º ciclo do Ensino Básico) só sabia classificar corretamente um ângulo reto, errando quase sempre quando tinha de identificar os ângulos obtusos e agudos. Tinha de perceber a causa dessa dificuldade... Comecei a desenhar vários ângulos com maior amplitude do que um reto, mas só mesmo por poucos graus mais, e perguntava "Este é maior do que um ângulo reto?", ao que ele respondia – acertadamente –  “Sim, é". E desenhava depois vários ângulos com menor amplitude do que um reto, mas só mesmo por poucos graus de diferença, e perguntava "Este é menor do que um ângulo reto?", ao que ele respondia – sempre corretamente – "Sim, é". Perguntei-lhe: "Então tu consegues ver sempre quando um ângulo tem mais ou menos do que 90 graus?", ao que ele respondeu simplesmente “Sim!”. E era verdade. Não era um problema de perceção: ele captava, com toda a clareza, quando um ângulo era ligeiramente maior ou menor do que um reto. Ora, era só isso que ele precisava de compreender; o resto era facílimo!

Perguntei-lhe (de rompante):
– Tu conheces as personagens Astérix e Obélix?
– Sim!... –  respondeu-me ele surpreendidíssimo com a pergunta.
– E diz-me então: qual das duas personagens ocupa mais espaço nos desenhos da banda desenhada?
– O Obélix! – respondeu ele, prontamente, animado com a reviravolta que a explicação estava a tomar, mas sem saber porquê.
– Pois bem... Então decora: quando vires um ângulo que ocupa mais espaço do que um reto, lembra-te do Obélix (começa por O: o ângulo é obtuso!); quando vires um ângulo que ocupa menos espaço do que um reto, lembra-te do Astérix (começa por A: o ângulo é agudo!). É fácil!

O aluno olhou para mim com os olhos arregalados e, de repente, esboçou um sorriso de orelha a orelha e disse numa voz emocionada: “Agora já sei!”

E eu acabava de aprender, com 14 anos, que a aprendizagem para ser efetiva tem de ser significativa para o estudante. E que, por vezes, a única coisa que lhe falta é apenas... uma mnemónica.

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